sexta-feira, 4 de novembro de 2011

MUITISSIMO INTERESSANTE VALE APENA LER

O PRAZER DE TER
É na ideologia do consumo (ou simplesmente: no consumo) que o peso da cultura se torna praticamente irresistível.
É no consumo que a comparação encontra terreno propício para dominar.
É no consumo que a competição desabrocha sem culpa.
Então, deixamos de ser cidadãos para nos tornarmos consumidores.
O consumo precisa de nós mas dá um jeito de convencer que precisamos dele. Suas profecias estão nos meios de comunicação e sabemos em geral que os anúncios são anúncios. Seus controles estão nos olhares do grupo de que fazemos parte; só lhe pertencemos, se consumimos o que ele consome.
O consumo não é o consumo, mas uma ideologia.
Consumir não é satisfazer uma necessidade. O consumo se satisfaz em si mesmo.
O consumo já é o ideal. O consumo se vende como um projeto de vida.
Ao nos seduzir, o consumo se torna parte do nosso estilo de vida.
O consumo se torna um padrão, como uma estrada a ser naturalmente percorrida.
É divertido consumir.
A ideologia do consumo pervade todos os desejos, todas as práticas e todas as instituições.
Precisamos comer; o consumo nos sugere o cardápio e o restaurante.
Precisamos dormir; o consumo nos estabelece o tipo e a marca do colchão.
Precisamos morar; o consumo nos conforma a arquitetura.
Precisamos nos vestir; o consumo nos dita o modelo e a marca.
Precisamos trabalhar; o consumo nos orienta qual a profissão.
Precisamos estudar; o consumo nos impõe o método e a escola. (Ou: nos impõe a escola, que nos impõe o método.)
Precisamos cultuar; o consumo nos informa o estilo de culto e a igreja.
Precisamos ler; o consumo nos apresenta o autor e a editora.
Precisamos nomear nossos filhos; o consumo nos oferece a restrita lista dos nomes bonitos.
Precisamos viajar: o consumo nos dá o roteiro.
Precisamos nos divertir; o consumo nos define o espetáculo.
Precisamos nos recolher, mas o consumo nos garante que ainda precisamos acelerar.
Podemos ir no nosso ritmo, mas o consumo fixa a velocidade, que tentamos seguir, mesmo que além do nosso fôlego. Como nos dizem que todos estão indo, como não iremos para lá também?
Já amealhamos o suficiente, mas o consumo nos amedronta dizendo que é pouco.
Dizemos que as pessoas são o que elas são, mas o consumo nos traz à realidade de que as pessoas são o que elas compram.
Diziam-nos que consumíamos para viver, mas agora nos dizem que vivemos para consumir.
Ouvimos Jesus dizer que não devemos andar ansiosos para fazer aquilo que precisamos fazer, mas o consumo retruca ("garanta já" o que você quer) e ficamos confusos.

Contrapontuemos.
Um mentor espiritual acolheu várias pessoas em voluntária busca de equilíbrio, num lugar elevado e insulado numa extasiante montanha verde.
Durante alguns dias, os reunidos oraram, cantaram, ouviram e, especialmente, foram orientados a ficar em silêncio por horas seguidas.
Aprenderam novas maneiras de pensar e amar.
Quando foi se aproximando a hora de descerem para o vale, alguns começaram a lamentar que, daqui a pouco, teriam que voltar ao mundo real.
O mentor os ouviu e proferiu seu último aforisma:
-- Não pensem que vocês voltarão para o mundo real. Na verdade, ao saírem daqui, vocês estarão deixando o mundo real. A vida vivida aqui, nestes dias, é que é a vida real. A vida lá embaixo, feita de comparações, competições e consumismos, é que é falsa.

Tem razão o mentor?
Vivemos vidas que não deveríamos viver. Estas não são vidas boas. Não deveriam as nossas vidas.
Consumir não pode ser nosso projeto de vida. Precisamos nos desintoxicar da dependência a estes padrões.
Vivamos na certeza que, "à luz das Escrituras, nossa vida é dom de Deus, tesouro incomparável a nós confiado, potencial que devemos cultivar e defender para que produza frutos. Deixar-nos aniquilar, esmagar as aspirações que Deus pôs em nosso coração, calar nossas convicções, renunciar a nossa personalidade, permitir que o outro decida quais são os nossos gostos e imponha sua vontade e seus conceitos significa enterrar nossos talentos como faz o servo da parábola (Mateus 25.14-30). É desobedecer a Deus por medo dos homens". 5
Para não desobedecer, precisamos vigiar. Só prestando muita atenção, preservaremos nossa vocação livre da poluição cultural de nossa sociedade e seguirmos Jesus de um modo que ele continue sendo Jesus e nós caminhemos na direção que ele quer, moldado pelas Escrituras e pela oração (conforme a sugestão de Peterson 6).
Somos chamados para esta jornada de santificação, em que nos enchemos menos das coisas e mais de Deus.

***
ACORDE
1. Faça um inventário pessoal, perguntando-se seriamente: "Para que eu vivo?". (AUTOCONHECIMENTO)
2. Confesse o seu pecado de ter ido na onda, negando-se a si mesmo, tornando ainda mais conspurcado o quadro original da imagem-semelhança de Deus. (CONFISSÃO)
3. Ore  especificamente, pedindo a Deus para não mais comparar e não mais se comparar. (ORAÇÃO)
4. Medite sobre o que se tornou a sua vida, reconhecendo como a competição e o consumo se tornaram destrutivamente seus padrões, com pouco ou nenhum espaço para o recolhimento, que "nos liberta de nossas reações naturais" e "nos leva a reconhecê-las e a experimentar constantemente, novas manifestações da graça de Deus". 7(REFLEXÃO)
5. Decida viver de modo livre das opiniões a seu respeito e dos estilos de vida dos outros, mesmo que lhes pareçam perfeitos. (DECISÃO)
6. Empenhe-se para vigiar sempre porque os demônios, quando voltam, retornam ainda mais fortes, como aprendemos com Jesus em Mateus 12.43-45. (ESFORÇO)

PARA LER
TOURNIER, Paul. Os fortes e os fracos. São Paulo: ABU, 1999.
YANCEY, Philipe. Rumores de outro mundo. São Paulo: Vida, 2005.

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