sexta-feira, 4 de novembro de 2011

COMPETIR E GUERREAR

COMPETIR É GUERREAR
Ficamos horrorizados com a guerra, aquela estampada na capa dos jornais.
No entanto, queremos vencer a discussão com o nosso cônjuge (para que assim nós o submetamos), queremos ganhar o debate travado com os colegas (para que assim sejamos mais elogiados), queremos que os aplausos a nós dirigidos dure mais do que o outro maestro (para ficar evidente que somos melhores), queremos que o nosso livro venda mais do que os outros autores (porque escrevemos melhor), queremos que a nossa igreja esteja mais cheia do que as outras (de modo que possamos cantar que nela o poder de Deus é maior).
Eis o que queremos, mas não achamos que isto seja guerra.
Mas o que é guerra, senão a busca por mais espaço, tirado do outro, pela derrota do outro? Somos moldados pela ideologia da guerra, como se fosse o motor do crescimento pessoal.
Por isto, há pessoas que precisam inventar uma guerra, em que tudo é justificado (até matar) para continuar sobrevivendo. Por isto, há pessoas que inventam doenças para, lutando contra elas, continuar sobrevivendo.
E essas mesmas pessoas criticam a violência no mundo. Muitos pais ensinam aos seus filhos que primeiro devem bater, antes que batam neles. E esses mesmos pais reclamam da insegurança das ruas.
Gostamos tanto dos esportes, pela dimensão saudável da competição. E é porque pode ser o território da trapaça (é preciso vencer, a qualquer custo) ou da violência (é preciso vencer, preferentemente massacrando o adversário tornado inimigo) que o esporte tem regras. Nem sempre esportistas e torcedores não o entendem. Quantas vezes nos decepcionamos quando, terminada a partida de futebol, o atacante e o zagueiro se abracem. Eles entenderam o que é o jogo. Os que nos decepcionamos, não. Um jogo é o que é: um jogo, talvez uma simulação de uma guerra, mas não uma guerra; deve haver um vitorioso no jogo, mas não um derrotado.
Na vida profissional, se a competição for apenas um elemento do jogo, não de nossa personalidade, ela pode nos ajudar a compreender os nossos papéis. A competição na vida, emulando a do jogo, pode ser saudável. Por causa de nossa natureza, se não tiver regras, transforma-se em veia aberta para a violência.
Sucesso não é se realizar. Sucesso é derrotar aquele que se imagina inimigo. A sociedade nos obriga a participar da guerra. Os postulantes a um curso ou a um emprego precisam estudar o suficiente para derrotar os inimigos, mesmo que alguns tenham crescido com eles. Não importa: ali são inimigos a vencer.
Fico pensando que o temperamento dito explosivo de uma pessoa não advém da certeza que ela vai perder. Como vai perder, quem sabe terá alguma chance se bater primeiro. Nos termos da psicologia, "o agressivo se adianta a uma possível experiência de rejeição, tendo a certeza de que alguém fatalmente irá contrariar suas expectativas". 3 É por isto que os fracos são violentos, não importa a face que  tome: irar-se, esmurrar a mesa, bater a porta, elevar o tom da voz, argumentar perfidamente para ferir o antagonista em seu ponto vulnerável, 4 emburrar, debochar, ironizar, chutar, empurrar, esbofetear, gritar, atirar
A violência é intrínseca à condição humana, mas pode ser desarmada.
A violência também se aprende, mas a espiral pode ser desfeita. Aprendemos que os conflitos, próprios de nossas diferenças, não devem ser administrados. Eles devem ser eliminados -- apreendemos -- com a sujeição do outro. A paz também se aprende, por isto são felizes os que a promovem (Mateus 5.9).
Podemos resolver nossos conflitos sem agredir. Quando estamos mergulhados nele, nós os resolvemos quando entendemos que os dois lados precisam vencer.
Precisamos descobrir que somos interdependentes. Nós precisamos um do outro.
Os casais que continuam juntos são ou, infelizmente, aqueles em que um dos cônjuges se sujeitou (isto é: foi sujeitado) ou, felizmente, aqueles que descobriram a sujeição mútua (Efésios 5.21).
Somos chamados a viver em paz com todos, na medida do possível. Somos convidados a não reagir com violência. Conhecedor de nossa natureza, Deus nos diz: deixem a vingança comigo, porque eu não peso a mão como vocês quando estão cheios de ódio (Romanos 12.18-19).

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